terça-feira, 15 de março de 2011

DIAGNÓSTICO


Em dias recentes acordei com uma grande, uma enorme dor. Doía muito. Lembro-me de ter pensado naquela frase de consolo: - Que sorte, morreu sem sentir nada! E porque logo eu haveria de sentir tudo? Não teria como anestesiar nem que fosse só um pouquinho.

Mas que nada, o tempo passava e a dor só fazia aumentar. Decidi procurar um médico, pois começava a desconfiar de algo grave.

Chegando ao consultório fui recebida por um médico de meia-idade, sereno, que com sua fala mansa começou a me fazer perguntas sobre o motivo da minha visita. Relatei a súbita dor que me acometera e da qual não conseguira me livrar com medicamento algum. Veio então a temida pergunta: - Onde dói? Como responder a isto sem parecer mais uma daquelas pessoas hipocondríacas apenas à procura de um novo lançamento laboratorial. E como não podia deixar de ser, para esta pergunta a mais óbvias das respostas, é claro: - Dói tudo. Tudo, disse-me ele? Ao que eu respondi: - Tudo, doutor!
Vamos então ao exame, deite-se ali.

E começou o exame pelos pés, pernas, abdômen, mãos, braços, não sem que eu soltasse um gemido a casa toque. E assim continuou chegando ao peito onde a dor me parecia já não ser tão intensa. Examinou olhos, ouvidos, nariz e garganta. Apertou têmporas, acima das bochechas, acima dos olhos e sem dar sinais de nada haver encontrado mandou que eu me vestisse. Após este meticuloso exame físico e mais algumas perguntas de ordem pessoal disse-me que parecia não haver nada errado comigo fisicamente e que só poderia haver uma explicação para tanta dor.

Eu estava com a dor mais intensa que o ser humano pode sentir. E veio então o tão temido diagnóstico.

Era dor na alma!  A alma dói quando o corpo já não consegue mais suportar a carga. A alma dói quando o coração já não sente mais dor. A alma dói quando o espírito se entristece e chora. A alma dói quando a esperança acaba. A alma dói quando a vida pesa tanto que o corpo fica anestesiado.

A dor na alma é a dor mais doída que já senti.

E assim aprendi que podemos adoecer de tudo, menos da alma. E também que podemos perder tudo, mas como dizia o poeta: “-Há de se conservar a alma.” Graças a Deus!

sexta-feira, 4 de março de 2011

SOBRAS DE UMA VIDA

Tenho a consciência de que estou vivendo os dias que me sobram de vida, pois já deixei mais para trás do que tenho pela frente, estatisticamente falando.   O que fazer então dos dias que me sobram? Chego até aqui com a mais plena sensação do dever cumprido. Boa filha, boa esposa, boa mãe. Mas e agora? Pais enterrados, filhos criados, casamento desfeito.

A vida me cobrando compromissos, planos e eu sonhando em rodar o mundo. De que adianta ter sonhos se não temos a coragem de colocá-los em prática. Comodismo, covardia, decepção? Gostaria de num ímpeto poder resolver isto. Pegar os parcos recursos de que disponho e investi-los em sonhos. Afinal não sabemos quanto tempo nos sobra. E estas sobras deveriam ser mais bem aproveitadas.

Como boa dona de casa sempre tirei o melhor proveito das sobras do dia. E eis que agora me vejo sem saber o que fazer com as sobras de minha vida.

Que Deus me ajude!