domingo, 3 de abril de 2011

BAGAGEM II


Pode imaginar o que é ser uma mala sem alça? A mala em si já é uma coisa horrenda de se carregar e ainda por cima sem alça! Melhor é largar por aí.

É assim que eu entro nesta história. Sou a mala sem alça. Aquela que ninguém quer carregar.

Certo dia voltando de uma das muitas viagens pelo mundo a fora senti um baque. “Ai que dor! O que foi que houve? Será que caiu o avião?" Que nada fora só minha alça que arrebentara e lá estava eu, esparramada ao chão morrendo de vergonha de ser a causa de tamanho transtorno.

Tenta daqui, amarra dali e, por fim, largaram-me lá. Isto mesmo no meio do caminho, não sem antes me esvaziarem, é claro. E por ali fiquei sem saber para onde ir e nem como ir porquanto sempre fora carregada.

As pessoas passavam, olhavam e seguiam em frente. Um garotinho até que ensaiou me erguer sendo prontamente repreendido por sua mãe afirmando não prestar eu para mais nada.

Os dias foram passando e depois de muito chuta daqui, empurra de lá, fui parar em um canto de onde podia observar o vai e vem dos passageiros. Todos sempre com muita pressa para prestar atenção a uma mala velha.

Bem, posso dizer que a esta altura estava me acostumando com o meu destino e já estava até concordando com o fato de dizerem ser eu um traste inútil

Até que apareceu alguém carregado de coisas nos braços quase sem ter como segurá-las. E se deparou comigo num canto. Chegou mais perto, apoiou as compras no chão e cuidadosamente olhou meu interior. E para minha total surpresa, talvez por ter gostado do que viu, começou a arrumar suas coisas com mãos fortes e ao mesmo tempo delicadas como se licença pedissem por tamanha invasão e de modo a não deixar que nada me machucasse ou sobrecarregasse. E foi então que viu aquilo que todos já sabiam. Não havia alça.

“Pensei, que pena, tão delicado e tão diferente da mão que me conduzira anteriormente.”

De repente me ergueu do chão com seus braços fortes e me acomodou junto ao seu peito. Que sensação boa esta. Ser carregada junto ao peito e não mais jogada de uma mão para a outra, gesto este sempre acompanhado de uma ar de enfado.

Que gostoso era poder ouvir aquela voz tão de perto, me sentir abraçada, não importando mais se os corações pulsavam loucamente, mas sentir que pulsavam no mesmo ritmo. Ritmo alcançado apenas pela proximidade.

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