Ouço a chuva caindo de mansinho como se estivesse com vergonha de aparecer nesta época já fria do ano. Parece que todas as lareiras se acenderam ao mesmo tempo tamanho é o cheiro de lenha no ar.
Percebo que também eu preciso sair transbordando meus sentimentos por aí. Mas tal qual a chuva, bem de mansinho. Represados que foram por tanto tempo hoje se parecem com aquela mala cheia que se teima em fechar inutilmente. Fecha de um lado, escapa do outro.
Desisto e deixo que se apresentem. Não sei bem se tenho mais medo deles ou estes de mim. Fato é que vão se apresentando, timidamente de início, mas me surpreendendo a cada dia.
Dores antigas, amores largados, renúncias, escolhas, boas lembranças, alegrias, más lembranças, tristezas.Mas como pode caber tanta coisa dentro da gente e sequer sabermos que as guardamos?
Continuo e me surpreendo ao encontrar uma paixão escondida. Impossível! Devo estar imaginando coisas. Logo eu tão racional. Onde estava guardado isto tudo? E esta saudade tão grande que chega a doer. Como se pode guardar tamanha dor tão bem guardada?
E de pergunta em pergunta vou deixando que se apresentem. E quando percebo que não os temo mais estes se apresentam em toda sua plenitude. Gostosa e tranquilamente.
Constato então que se certo é fazer o certo, então porquê não deu certo?
Decido errar um pouco, afinal errar é ou não é humano? E saio errando gostosamente. Como é bom errar e aprender!
Finalmente posso começar a apreciar estes sentimentos sem medo, sem culpa, sabendo que já não podem mais me machucar.
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