quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

QUALQUER COISA


 
Certo dia encontrei na rua uma cadelinha da mais pura estirpe vira lata passeando com seu dono. Muito serelepe me rodeou, saltou, lambeu e foi o bastante para me conquistar. Não que eu seja difícil de ser conquistada por estes seres que recebemos de presente dos céus. Já totalmente apaixonada perguntei ao dono o nome dela e como resposta recebi um pode chamar de “qualquer coisa” que ela atende e continuou explicando que a havia encontrado na rua e nem mesmo ele sabia o nome da bichinha. Pensei comigo, coitadinha, sequer um nome escolheram para ela. Pareceu-me que aquele novo dono, apesar de tê-la recolhido da rua, não estava lá muito comprometido com ela. E isto me levou a pensar nas escolhas que fazemos na vida, ou melhor, nas que deixamos de fazer, já que é mais fácil deixar que escolham por nós. Seja por imediatismo, pois é mais rápido optar por não fazer nenhuma escolha; seja por cordialismo, pois é mais simpático responder com um “qualquer coisa”; ou até mesmo comodismo, pois não estou a fim de me comprometer.

Qualquer coisa é nenhuma escolha. Muita coisa, pouca coisa, alguma coisa, coisa nenhuma, isto ou aquilo; mas jamais “qualquer coisa”. Esta não é uma opção válida e nos anula como pessoa. Vamos nos acostumando a aceitar escolhas alheias, vamos nos encolhendo diante da vida e outros passam a ocupar o nosso espaço, até chegar o dia em que nos vemos diante de uma situação em que ou fazemos a nossa escolha ou pereceremos de uma vez. E neste momento descobrimos que sequer sabemos do que gostamos. Descobrimos que deixamos de gostar, de ter opiniões e o torpor é tal que precisamos parar e, talvez pela primeira vez, pensar do que gostamos.

Certa ou errada faça a sua escolha, comprometa-se. Será a sua decisão. Não abdique do seu lugar no mundo.

Quanto à cadelinha, bem esta seguirá pela vida sendo chamada de “qualquer coisa” já que a ela não foi dada a prerrogativa da escolha.

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